Desde o dia 30 de Janeiro, um prédio da Universidade Paris 8 está ocupado.
Estudantes, imigrantes, refugiados permanecem no prédio denunciando a política migratória racista da França. O prédio agora também aloja migrantes que estavam dormindo nas ruas sem qualquer proteção ou auxílio.
A página do movimento de ocupação dos exilados já foi bloqueada pelo Facebook. Os ocupantes se organizam para recolher alimentos e já preparam refeições todos os dias no prédio. No dia de hoje, 5 de fevereiro, a programação da ocupação anuncia uma discussão sobre universidade, racismo e solidariedade no contexto pós-colonial.
50 anos depois do Maio de 68 francês, momento no qual a aliança entre universidade e fábrica potencializava o grito por liberdade e melhores condições de vida, a “ocupação dos exilados” reanima a possibilidade de resistência contra os avanços neoliberais e também tece novas alianças.
São eles e elas que carregam no corpo as marcas de um renovado modo de dominação do capital em seu mais novo ciclo colonial e racista. Todxs xs exiladxs, aqueles que circulam e não possuem o direito de permanecer, aqueles que são apagados dos pactos nacionais de cidadania, todos os precários, gente das cozinhas, os continuamente explorados nas sombras de um capitalismo que promete eficiência e liberdade mas entrega uma polícia cada vez mais poderosa, aqueles que denunciam a violência das fronteiras e de um padrão de acumulação que se alimenta do desespero e fragilidade. Os exilados escancaram um regime potencializado nos seus dispositivos de disciplina, um regime que produz, continuamente, seu projeto de comunidade nacional sob os pilares do medo, do ódio ao outro, ódio à diferença.
Reproduzimos aqui o manifesto da ocupação dos exilados:
Pessoas exiliadas ocupam Paris 8
Ao povo francês, aos estudantes, às pessoas que dormem na rua, às pessoas solidarias, às pessoas torturadas pelo regulamento de Dublin*,
Somos pessoas migrantes do mundo inteiro, dublinados/as, migrantes com o estatuto na rua.
Nos recusaram o asilo, atravessamos o mar, somos menores e sem papeis. Ocupamos a Universidade Paris 8 no dia 30 de janeiro 2018. Porque fizemos esta ação ? Nos últimos meses a França deportou muitas pessoas. Muitos entre nós, se suicidaram.
Há três meses um amigo dublinado, em depressão, se deitou nos cais do trem e foi atingido. Faz dez dias em Calais, a policia bateu e lançou gás contra alguns migrantes que dormiam na rua. Um jovem foi desfigurado por um tiro da policia. Um amigo que tinha um encontro na prefeitura, foi preso e colocado num centro administrativo de detenção, antes de ser deportado na Itália. A policia francesa com suas suas sirenes e gases, mas sem fé nem lei.
O que o sistema da imigração francês espera de nós são impressões digitais, não a gente. O arbitrário e o aleatório fazem parte do nosso cotidiano, da l’OFPRA (gestão institucional dos/as migrantes), da corte nacional do direito de asilo e da prefeitura. Ao término das práticas administrativas e jurídicas, alguns/mas são recusados/as, dublinados/as, em prisão domiciliar, deportados mas sem nenhuma lógica.
Reivindicamos :
Documentos para todos/as
Moradias decentes e sustentáveis
Poder aprender o francês e continuar os nossos estudos
Fim do dispositivo de avaliação dos estrangeiros
Fim imediato das deportações para os outros países, na Europa e em outros lugares
Nós esperamos que as pessoas migrantes continuem lutando em toda parte na França contra a opressão e a injustiça e contra as práticas violentas da poliícia na rua.
Ao povo francês : Vocês que fizeram a revolução que estudamos nos livros de historia, retomem-na !
Agradecemos a população por todo o seu apoio. Ao contrario do que pretende o governo, ainda há solidariedade. A administração da universidade tem sido ambigua nas negociações: ora flexível, ora violenta. Algumas pessoas falam que vão oferecer outro lugar na universidade, outros ameaçam de maneira escondida e dizem que vão mandar a policia. Pedimos aos estudantes e aos professores de Paris 8 apoio às nossas reivindicações.
Agradecemos e pedimos para permanecer conosco até o fim. Somos hoje a luta dos estudantes sem documentos da Universidade Paris 8.
Aos e às nossas/os amigas/os quem atravessam o mar
Que se suicidaram Mortas/os pelas fronteiras
No deserto
Violentadas na Lybia
Nós não vamos esquecer vocês!
Os e as migrantes de Paris 8.