Aguardando a decisão…
Publicado en página do NU-SOL
Há mais de duas semanas, vários colegas me encontram e alegremente me cumprimentam dizendo que ganhei o processo administrativo movido pela PUC-SP. Porém, eu não sei o que
responder. Não recebi nenhuma comunicação oficial. Sei pelos corredores e salas da universidade por onde ando e trabalho que “ganhei”, “fui absolvido”… E só.
Sei que fiz meu depoimento em 31 de março e que a comissão se reuniu. Suponho que sua decisão tenha sido encaminhada. O zum-zum não se espalhou do nada. Mais de dois meses depois
do meu depoimento (o acusado sempre é o último a se manifestar) e mais de oito meses do início do processo, permaneço atento e com a presença de professores, funcionários e estudantes solidários da PUC-SP; de amigos, colegas, associações, organizações e pessoas que se manifestaram diante desse estranho processo; e principalmente da APROPUC.
Sei também que o tribunal como locus da justiça se afirma a cada condenação. A absolvição para ele é apenas uma rotina burocrática e sua divulgação pouca obtêm relevância (a não ser em
casos de política institucional em crise escancarada). Não preciso lembrar a ninguém como gentes são mantidas encarceradas mesmo depois de esgotados todos os caminhos do julgamento, e como o tribunal, propositalmente, é moroso. A sua forma de assegurar o poder de julgar, segundo suas regras, provoca a agonia. E também por saber disso constato seu costume, sem deixar de sublinhar que isso perturba.
A abertura de um processo e os seus respectivos procedimentos constituem em si o suposto caminho para a punição, mas não só. Também por meio de artifícios de políticas públicas se interna
(compulsória ou voluntariamente diante de um evento que embaraça a saúde pública). O justo, pelos meios convencionais ou modernosos, pretende punir mais e melhor. Por isso, também me coloco adversário da justiça restaurativa; simplesmente porque com ela está em jogo castigar, sob a alegação da rapidez de decisão compartilhada, condenando condutas e promovendo outras mais a serem criminalizáveis, passíveis de julgamentos compartilhados.
Estou e estive sob os procedimentos convencionais, simplesmente porque o processo administrativo em curso foi aberto para me incriminar como trabalhador por conduta indisciplinar
contra o empregador, a partir de uma denúncia encaminhada à ouvidoria da Fundação São Paulo.
Noutra ocasião me manifestei abertamente sobre isso. Agora, depois de cumpridos todos os requisitos, apenas espero pela decisão. E a aguardo do mesmo modo: surpreso, atento e combativo.
Ainda estou na PUC-SP, uma universidade, em passado recente, tida até como vanguardista, mas que hoje parece preferir a rotina de ajustes que se espelham no que o justo determina como
regularidade, minimizando a força das suas contestações e invenções vindas de baixo. O termo em voga no palavreado politizado, a coalizão de agrupamentos, pode gerar colisão, simplesmente
porque para haver coalizão é preciso confirmar negócios e suas devidas recompensas (e nisso a política brasileira é exímia, tanto para fazê-los como para agitar reformas em nome de uma novidade que apenas recicla os mesmos condutores). E assim, se renova e inova o ajuste justo, equalizado hoje, em termos e em tempos de resiliência.
Espero que este processo se encerre e sirva para reabrir corajosamente modos de conviver menos policiais, mais livres e sabendo que nada é fácil. Fácil é denunciar, delatar em nome de
direitos ou para recobrir autoridades, aguardando recompensas. Mas a luta por direitos é antes de tudo luta pela vida. É preciso se revirar um pouco diante da galopante disseminação da crença na
punição (para os poderosos ela também gera negócios, para os de baixo, o estigma de cagueta, dedo-duro, informante, infiltrado…).
É inacreditável que a PUC-SP se acomode no vaivém do justo ao político e vice-versa. Penso que até o mais simplório pluralista, em sua intimidade, tenha se assustado com este processo contra
mim, simplesmente porque constatei que os temerosos de sempre ou da ocasião estremeceram.
A PUC-SP pode sim, sair dessa rotina na qual é muito fácil, hábil e político declarar que o culpado é sempre o outro, produzindo embates entre os próprios trabalhadores. E que os canalhas
que espezinham os de baixo tenham se revisto; que os tolos de baixo também; porque se uma universidade existe pela sua competência de saber, ela só se diferencia pelo modo como todos nela
se governam fortalecidos e afirmando liberdades.
Permaneço aguardando a decisão.
Edson Passetti